foto by: ALINA SOUSA

O percebe

Biologia e Ecologia

Pollicipes pollicipes (Gmelin, 1790), cujo nome vulgar é percebe, é um crustáceo cirrípede que se distribui sobretudo na zona intertidal de substrato duro, desde a Bretanha em França, até ao Senegal, sendo muito raro no Mediterrâneo. O percebe é abundante em locais sujeitos a elevada agitação marítima, sendo muito raro em zonas abrigadas.

Externamente, podem-se distinguir duas partes num percebe: capitulum ou unha; e pedúnculo com o qual se fixa a um substrato. O capitulum é triangular e é formado por uma série de placas calcárias: cinco placas principais (carina, um par de scutum e um par de tergum); e placas secundárias que podem ser pares ou ímpares (ex.: rostrum). A distância entre as placas rostrum e carina (distância RC) é muito utilizada para definir o tamanho de um percebe. O pedúnculo é revestido por uma matriz orgânica elástica onde estão dispostas pequenas escamas calcárias.

A cavidade interna do capitulum é designada por cavidade do manto e encerra os cirros, bem como o cone oral, o tubo digestivo e os órgãos do aparelho sexual masculino (testículos, vesícula seminal e pénis). Os cirros podem ser estendidos para o exterior do animal e servem para capturar os alimentos e ventilar a cavidade do manto. No interior do pedúnculo, encontra-se músculo, o ovário e as glândulas produtoras do cimento com o qual o percebe se fixa ao substrato.

A espécie P. pollicipes pode ser considerada hermafrodita simultânea, ou seja, cada percebe é fêmea e macho ao mesmo tempo. A fecundação cruzada parece ser o modo de fecundação preferencial desta espécie. A fertilização ocorre na cavidade do manto e são formadas duas lamelas de ovos. Neste local, os ovos desenvolvem-se até eclodirem sob forma de larvas nauplius.

foto by: DAVID MATEUS

O percebe tem uma fase larvar planctónica composta por seis estados nauplius e um último estado larvar denominado de cypris. As larvas cypris fixam-se a um substrato e sofrem uma metamorfose em percebe juvenil. A fixação destas larvas é muito intensa em pedúnculos de outros percebes, o que faz com que estes percebes se distribuam em aglomerados (“pinhas”), com percebes agarrados uns aos outros.

Em Portugal, a reprodução desta espécie ocorre sobretudo durante a Primavera e o Verão, e a fixação das suas larvas cypris ocorre principalmente no Verão e no Outono. O crescimento dos percebes é muito variável, mas estudos indicam que durante o primeiro ano de vida, os percebes, em média, atingem a maturação sexual, podendo também atingir tamanho comercial.

Monitorização da pescaria

No sentido de proceder à monitorização da pescaria, o projeto CO-PESCA 2 implementou um conjunto de rotinas visando a avaliação em tempo real do esforço de pesca exercido. O compromisso assumido por todos os mariscadores, manifestado pela atitude voluntaria de verificar e registar a quantidade de marisco capturada num espaço definido como “Checkpoint” é disso bom exemplo. Por outro lado, e no sentido de implementar um sistema tecnológico para monitorização da pescaria, foram instalados dispositivos na quase totalidade das embarcações de apoio à atividade da apanha de percebe na Reserva Natural das Berlengas. Os equipamentos registam um conjunto de dados (posição, data/hora, integridade, registos de estado) fazendo uso de um sistema combinado GPS + SBAS (EGNOS) por forma a garantir a exatidão e integridade da posição. Os dados obtidos são automaticamente registados numa plataforma, permitindo uma avaliação em tempo real do esforço de pesca e respetiva distribuição espacial. De referir, que para além das embarcações, os próprios mariscadores possuem igualmente um equipamento de registo de posição.

Monitorização do estado do percebe

O estado do percebe tem sido monitorizado na Reserva Natural das Berlengas (RNB) desde 2005, com recurso a inquéritos aos mariscadores sobre o estado do recurso e a observações independentes em que tem sido estimada a percentagem de cobertura, a densidade e a biomassa de percebes em vários locais. Os inquéritos e as observações independentes foram realizados em 2005, 2011/2013 e 2018/2019. Os locais amostrados pertencem ao sector C (áreas de captura interdita) e ao setor A/B (áreas de captura permitida). A percentagem de cobertura tem sido estimada com recurso a dois métodos: foto-quadrados in situ (em todos os anos de amostragem); fotografia aérea com recurso a drone (em 2019); posterior análise de imagem às fotografias. A variação da densidade, biomassa e tamanho dos percebes tem sido determinada com recurso a amostragem destrutiva e análises laboratoriais (Sousa et al., 2013), não tendo sido encontradas, em geral, diferenças entre anos e entre setores.